quarta-feira, 3 de junho de 2009

A pena e as penas




Há dias em que pesa a pena.
Há tempos em que pesa a vida.
A própria existência é um punhal;
massacra, fere, tolhe
e confunde-se a vontade de estar vivo
com a de nunca ter nascido.

Não importa o céu azul,
não importam as crianças brancas, mimadas e felizes,
nem as festas nos bares,
nem os altares nas catedrais.

Tudo vazio,
tudo vão,
tudo oco.

Passa o dia,
passa a barca,
passam os transeuntes,
pára o tempo.

No fundo do quarto escuro,
um cobertor e um par de olhos escancarados.
O corpo inerte;
a alma transcendente;
as mãos frágeis.

Os lábios secos balbuciam algumas palavras,
tremem pelo frio,
temem pelas penas.

"O que será que me dá?
Que me bole por dentro,
será que me dá?...

Vem, Pai eterno,
me sustentar!...


André Coelho

¹incidental: Milton Nascimento e Chico Buarque, O que será (À Flor da Pele)

3 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Monique Hardoim disse...

Musical! O ritmo é pesado e triste no início acompanhando bem o tom do poema! A virada final é esperançosa e bela! Gostei! Parabéns!

Monique Hardoim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.