Há dias em que pesa a pena.
Há tempos em que pesa a vida.
A própria existência é um punhal;
massacra, fere, tolhe
e confunde-se a vontade de estar vivo
com a de nunca ter nascido.
Não importa o céu azul,
não importam as crianças brancas, mimadas e felizes,
nem as festas nos bares,
nem os altares nas catedrais.
Tudo vazio,
tudo vão,
tudo oco.
Passa o dia,
passa a barca,
passam os transeuntes,
pára o tempo.
No fundo do quarto escuro,
um cobertor e um par de olhos escancarados.
O corpo inerte;
a alma transcendente;
as mãos frágeis.
Os lábios secos balbuciam algumas palavras,
tremem pelo frio,
temem pelas penas.
"O que será que me dá?
Que me bole por dentro,
será que me dá?..."¹
Vem, Pai eterno,
me sustentar!...
André Coelho
¹incidental: Milton Nascimento e Chico Buarque, O que será (À Flor da Pele)
3 comentários:
Musical! O ritmo é pesado e triste no início acompanhando bem o tom do poema! A virada final é esperançosa e bela! Gostei! Parabéns!
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