sábado, 20 de outubro de 2012

revidação...




vi e revi
que o nada era nada 
e o chão era tudo 
e a nuvem era névoa. 




revi e vi 
que a nuvem era chão 
e o nada era tudo 
e a névoa era pão.




revivi 
e a névoa era nada 
o tudo era tudo 
e o nada já era... 




Soares




para Nanda Carvalho









sábado, 25 de agosto de 2012

faz, refaz, todo, fácil, difícil, vida, palco





faz-se alto, médio, baixo 
quieto e verborrágico 
difícil e desvairado
todo, melodia, leve, largo



refaz-se em planos altos e médios
em melodias no palco e em curso
faz-se todo palavra, faz-se todo discurso
leve se afasta de todos os tédios

 

faz-se e refaz-se em planos médios e altos 
no curso de uma palavra melodia
tão fácil é interpretar na vida 
difícil é interpretar no palco...



soares



para Fábio Lacerda

Caminhada





 

um passo pra ser santo
um passo pra ser poliglota
um passo pra ser leviano
um passo pra ser idiota



se por um passo tudo passa
e o compasso se ultrapassa
então a vida é uma trapaça

faça o que quiser, mas faça...





soares


para Camila Rosa Lins

sábado, 21 de abril de 2012

folhas






queria comer o outono
sentir o entardecer do sono
então as folhas caem 
então as bolhas soam
então as folhas voam
então as bolhas saem
queria o tom ou o tomo 
queria o som então somo
queria o gosto do como
queria comer o outono


domingo, 11 de março de 2012

(......)



a melancolia da brevidade
sempre é reduzida
quando na vida
se tem certa eternidade


e o que é o amor
senão algo eterno?
diminui o sofrimento interno
nos rende sorriso e calor


feliz é o que encontra
o amor-eternidade
vence a própria brevidade
vive em paz, em conta....




ps.: para os Filhos da Martins...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Alices, Cartolas, Coelhos...




Da minha cartola não sai coelho

Nem firula que maravilha parece

Só sai aos montes o seco centeio

Que Alice queima no país que fenece



- Mais um trago, ópio do povo

- Mas eu trago, ócio de novo


Minha querida não está perdida

Mas anseia por ser encontrada

Mal das ninfas misteriosas


A cartola me apresenta uma saída

Mas odeia ser escancarada

Mal das vestes glamorosas


- Mais um povo, trago do ópio

- Mas eu novo, trago de ócio



Da minha Alice não sai maravilha

Nem coelho que de firula perece

Só sai aos montes a voraz matilha

Que na minha cartola fenece



soares

#foto: Johnny Deep

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ladainha




Caminha e reza baixinho
o silêncio nenhum anjo esquece
contido, leva o canto bem quietinho
nem sempre um Deus escuta a prece


(rezo)


Quantas vezes a blasfêmia tem imediato castigo
e a dor permanece sem mísera resposta
melhor é então na revelia ser atendido
do que em prantos fenecer à porta


(reza)


a reza no vazio ecoa
a prece no estio voa
o anjo lá de cima entoa
utopia nova, alegre e boa


(reze)



Ahh, mais vale é sorrir e viver
aí a prece tem outro sentido
melhor a reza-troça no sofrer
do que chorar sem ser ouvido



(rogai por vós)



....


soares

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Helios



Salve ao Sol e a Rá
astro rei, estrela de poucos
Solis de todos, igual não há
se põe aos normais, nasce pros loucos




De tuas lágrimas nascemos nós
filhos de teu calor sem par
servos dos teus mares e anzóis
sedentos de teu brilho alcançar




Apópis se enconde, só Tu prevalece
majestade de luz perenal
a Lua que brilha de Ti se traveste
amante alvo de calor letal


soares



Foto: Praia de Itacoatiara -- Uly Riber

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Bandeira de meus Dias



Vou-me embora pra Brasília
onde canta o sabiá
serei parte da família
que gorjeia como cá


Diferença, linda moça?
nem muito aqui nem menos lá
Pero Vaz estava certo
tal beleza igual não há


Mas se a máfia ficar mófia
Que se salve o retumbado
Diga, então, ao povo que fico
Pois amanhã é feriado


Vou-me embora de Brasília
que gorjeia como Fusca
e as palmeiras dos Palmares
o senhor do negro ofusca



Mas ainda que eu venha ruir
Direi: sou amigo do rei!
Verei toda porta se abrir
Morrerei se Deus permitir
Na cama que escolherei



Então cante sabiá
e desfrute dos primores
minha terra tem amores
onde geme o lá e o cá...



(...)

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Comédia Romântica


Bobina e rebobina

Esse amor de sacarina

Chora e ri, escorre e pinga

Jante à luz de parafina


No começo onde são flores

Regurgitam-se amores

Tem mais viço até as cores

Nos lençóis há mais torpores


Mas se o tempo tudo esfria

E com ele toda a serventia

Se acaba em nostalgia

Onde por a poesia?


(...)


Rebobina e bobina

A sacarina desse amor

Escorra e chore, tome pinga

Morra à luz desse terror


tela: Sleep Le Sommeil, Salvador Dali