quarta-feira, 22 de junho de 2011

anti-Medéia




absorta em absurdo, escreve escrava
o marido lhe espancava
ai ai ai
ai ai
ai


o sangue ia-lhe, nada estancava
o marido lhe espancava
ai ai ai
ai ai
ai


das oito quando o jantar atrasava
o marido lhe espancava
ai ai ai
ai ai
ai


a cada tapa o mais amava
e o marido lhe espancava
ai ai ai
ai ai
ui



soares



FAGOS...




comi uma barata
e comi barato
sei que foi um barato
menos para a barata


e na bara que não ata
de uma ata que não baro

bara, bera, bira, bora, burra
burra foi a barata


soares


Drum Mond




no meio da pedra, tinha um sozinho
tinha um sozinho, no meio da pedra


PEDRA
PADRE
PERDA


Ôôô sinhô, essa pedra num é minha. Sô
do povo,sô sozinho. Valha-me Deus!
vossa bênção!


PADRE
PERDA
PEDRA


No meio da fogueira, tinha um povo
Tinha um povo, no meio da fogueira




soares




terça-feira, 21 de junho de 2011

Borboletas




Ouviram no Ipiranga
vozes flácidas
de um povo estoico
um trapo retumbante


e o sol da castidade
em raios dominus
brilha no céu da Trápia
a todo instante


receba da justiça a Clava forte
verás que os filhos teus são tua luta
entregues ao covil da própria sorte
Terra Adorada!


entre outras vis
és tu brasis
serva da Trápia


dos órfãos desse solo
és meretriz
Trápia amada do brasis




soares vinicius



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ponteiro


O tempo,

foi algo que o próprio homem criou,

para mais tarde,

lamentar o que perdeu por ter vivido

para os outros e não para si...


O tempo,

nada mais é que o desespero pujante,

daqueles que doem na alma,

daqueles que desesperam

a alma ansiosa por mudanças...


O tempo,

aaaaa, o tempo, cruel inimigo

não perdoa a beleza nem as ideias

tudo para o tempo é questão de tempo

tudo torna-se em nada...


soares



foto: eu, com o mau humor de sempre, aos 5 anos (rsrs)

sábado, 7 de maio de 2011

Ida




to com vontade de sumir
pena que não é tão simples...


to com vontade de partir
simples que não é tão pena...


to com vontade de embora ir
no fundo nada me impede
apenas o medo de sair
e perceber
que do desconhecido
tudo se conhece


soares


*tela: O Homem Amarelo, Anita Malfatti, 1915-16

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tu



Tu que anseia por algo que virá,

te contorces de pressa pelo que ocorrerá,

faz do seu breve presente um futuro a esperar

não vês que o sol que se pôs hoje jamais há de voltar?


Tu que refestela na desgraça alheia

e sorri enquanto o mundo se rateia

tolo és por não ver que do vizinho, a centelha

perpassa o muro e tua amada casa incendeia


Tu que sonhas com amores vultuosos e apaixonantes,

que caças loucamente torpores e flores destoantes

amarra-se com afinco em sentimentos dissonantes

terás, no fim, o choro dos mais enganados amantes


Tu que deixas o vil ciúme lhe corar o rosto

e faz conjecturas de suspeitas ao que nunca é posto

Não vês que perdes o tempo e o mais fino gosto

do sorriso de teu amor, sincero e sem desgosto?


Tu que te irritas com procelas pequenas

Faz tempestades por brisas amenas

Verás um dia, depois das novenas

que sozinho estás, sem dós nem penas



soares


arte: Banksy

EU


Eu que me vejo

Eu que desejo

Eu que Narciso

Eu que juízo

Eu que castigo

Eu que anseio

Eu que ensejo

Eu que me beijo

Eu que desejo

Eu que me tenho

Eu que me lenho

Eu que me cenho

Eu que me leio

Eu que Narciso

Eu que me beijo

Eu que me vejo



soares



tela: Contemplação, Erika Baptista, 12/11/2009

Nada





recuso o ardor da palavra

o torpor de termos

o êxtase de quem lavra

flores belas nos ermos


recuso o falar erudito

a nevrose contundente

o mistério e o mito

o pensamento ardente


recuso o calor

recuso o frio

recuso o fulgor

recuso o tardio


mas aceito o amor, simplório e terno

dotado de liberdade, sem protocolos

como mães que tem em seus colos,

ao ver seus filhos, um regozijo interno


soares


tela: Erika Baptista, 2010