quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Pavão e Sabiá (MPB)
Vou contar-lhe a diferença
do pavão e o sabiá
um canta, o outro encanta
um bonito de se ouvir, o outro de se olhar
Mas o que faço minha flor
pra você me desejar?
Não sei se canto ou encanto
por teu ouvir, por teu olhar
Vou contar-lhe a diferença
do sabiá e o pavão
um adorna, o outro afina
um toca a alma, o outro o coração
Mas o que faço minha flor
pra sentir o teu calor?
não sei se adorno, ou me afino
por tua voz, por teu amor
Vinicius Soares
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
eu não tenho lugar
Há pouco mais de um ano, ouvi no noticiário do meio-dia dos suicídios que têm havido nas tribos indígenas do Mato Grosso do Sul: em apenas um mês, mais de 10 jovens haviam se suicidado. Um deles, que se enforcara pendurado num galho de árvore, escreveu no chão, abaixo dos seus pés: "Eu não tenho lugar".
Repensando hoje sobre isso, chamou-me a atenção o detalhe de que o jovem sabia escrever.
O medo faz parte da personalidade do ser humano. O organizar-se em sociedade também. Mas sentir-se ou saber-se parte de um grupo é muito mais do que estar no meio dele ou ter acesso à linguagem de que se utiliza.
É por isso que o homem tem medo de ficar só. Medo de "sobrar". Este medo, no caso do jovem índio, chegou a ser maior do que o medo de morrer.
E você, o que você faz com seus medos?
André Coelho
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Metidez (MPB)
pode até ser metidez
fio bom não se solta
às onze o trem parte de vez
Aos olhos da morena
que ontem declarei amor
desvio, furto, reservo de forma amena
um coração cheio de dor
Mas no fim ela torna
confiante, querendo lugar
deja-vu não me importa
morena, deixaste a sorte passar
(refrão)
Vida vem vida vai
Vida vai vida voa
meu bem não sou pro bico
de qualquer pessoa
Dessa vez não deu samba
lhe digo: não sou pra brincar
indecisão tem quem escamba
morena, deixaste a sorte passar
Soares
*foto: Oscar Wilde
ps.: dedico essa música aos amigos envoltos na "metidez", o que no caso, são muitos
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Divagações
Quão grande é o tempo perdido
Nas questões sem solução
Cabe a mim provar ter existido
Lá no Éden, o umbigo de Adão?
Anos idos, estudos vazios
Esforço, labor, ostentação
O resultado vê-se nos brios
Glórias, honras, elogios, contemplação
No fim, a tese é de valia
E os especialistas esquecem então
Distraídos com seus diplomas, leviana alegria
Dos que na rua mendigam o pão
Do que vale o exímio estudo
noites mau dormidas, extrema dedicação
Se no fundo, ao pobre, objeto, contudo
Não lhe é dada compaixão?
Mas vai dizer isso ao mundo
Ao seu discurso darão atenção?
Quando a solidariedade é passageira
Mais vale o umbigo de adão
Vinicius Soares
ps.: dedico a Filipe e Anne, raros comprometidos com o reino
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Cadê a chuva, meu Deus?...
"A chuva chega e ela vem lavar,
vem me livrar do mal.
É água fresca para aliviar
meu coração que secou
de tanto pranto derramado
pela mágoa
que se instalou no meu peito
de um jeito tão perverso;
hoje se desfaz nesses versos..."
André Coelho
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Dedicatória
Ao que faz o bem
Sem almejo de retorno
tens o canto dos pássaros
teu amor é teu adorno
Ao desesperançoso
Olhe o canteiro de tuas idas
Hás de ver no teu caminho
O sorriso das margaridas
Ao que muito se receia
Conto sempre as novidades
O que seria da bonança
Sem as grandes tempestades?
Ao que muito segue regras
E os compêndios tem sobre si
Há maior leveza e graça
Que o vôo livre de um colibri?
Ao que nunca sonha
Desejo-lhe muitas flores
O que seria da noite sem as estrelas?
O que seria do jardim sem as cores?
Ao que tudo imita
Respondo-lhe com leve calma
Pode-se até plagiar a letra
Mas nunca copiar-se-á a alma
Vinicius Soares
ps.: dedico a Renato, Dyane, Viviane, Camille e Rafaela; os quais adimiro muito

EL dourado
Buscaram-no com as mãos
Queriam apalpá-lo, vê-lo, tateá-lo
A estética sobrepôs-se ao espírito
E a alma de nada valeu
deram suas jóias
derreteram o ouro
criaram sua entidade, seu EL
houve festa
houve dança
Ali selou-se a podridão humana
E a criação se inverteu
A criatura fez do criador sua imagem e semelhança
A criatura forjou um criador dourado
Ali a lei quebrou-se
A partir daquele momento
percebeu-se o declínio dos homens
insensíveis ao vento
desprovidos de espírito
ausentes de alma
Há quem até hoje creia
que pode ter Deus em suas mãos
como se o homem
pudesse segurar o vento
ou ter os céus dentro dos olhos
Vinicius Soares
ps. dedico a Paulo, semita nato.

Heroísmos
Qual seria o impulsor da coragem?
A vaidade? A necessidade?
O cinismo? O remorso? A vantagem?
A recompensa? A glória, as palmas, a vontade?
Há quem diga que heróis são natos
Outros, pessimistas, que hoje não os há
Se bem que, com as consequencias dos fatos
Vale mais, nada esperar
Mas ainda há quem se chame valente
Quem se exalte, se gabe a esmo
Resta-nos o pensamento frequente:
cada qual é herói de si mesmo
De si mesmo? Redundância que só...
Heróis-Bandidos tem a confirmar
Nada seria pior
Que um mundo sem mocinhos pra salvar
terça-feira, 30 de junho de 2009

Palavras
Palavras vão como o vento
mas no fim elas retornam
e trazem consigo a brisa da bondade
ou o sopro quente da vergonha
Escolha bem o que falas
discerne, pense, mede
Palavras são como gaivotas
voam mas voltam
e trazem consigo boas lembranças
ou o amargor do remorso
Escolha bem o que falas
discerne, pense, mede
Palavras são como poções
curam ou matam
condenam ou ressuscitam
Escolha bem o que falas
discerne, discerne, discerne...
Vinicius Soares
segunda-feira, 29 de junho de 2009

Confusão
Não confunda o silêncio com a omissão
nem a caridade com a política
muito menos a reflexão com a solidão
tampouco o sorriso com a alegria
o ato de confundir está em mim
confundo, indago e concluo
ato falho
ato obscuro
Não confunda a mansidão com a fraqueza
nem a dor com a penitência
muito menos a liberdade com o desrespeito
tampouco a fantasia com o impossível
o ato de confundir está em ti
confunde, indaga e conclui
ato falho
ato obscuro
Não confunda a sinceridade com a acusação
nem a mais simples bondade com o interesse
muito menos a paixão com o amor
tampouco a vitória com a soberba e o conselho com a sabedoria
o ato de confundir está em nós
confundimos, indagamos e concluímos
ato falho
ato obscuro
Vinicius Soares
quinta-feira, 11 de junho de 2009

Ama-te
Ama-te, para alegria dos outros
Ama-te, para mudar as coisas
Ama-te e farás obras incríveis
Ama-te, para que sejas sublime
Ama-te e ouvirás sempre: "Bom dia!"
Ama-te e verás a cordialidade
Ama-te como fator que antecede a fraternidade
Ama-te, para amar o mundo
Ama-te antes de acordar
Ama-te depois de dormir
Ama-te em tudo o que fizer
Só assim te importarás com teu próximo
Só assim farás diferença
Só assim...
Ama-te...
Vinicius Soares
terça-feira, 9 de junho de 2009
sábado, 6 de junho de 2009

Baile do Mensalão
Ironia todo dia
faz bem ao coração
tragédia vira alegria
e o lamento a mais bela canção
- Fique calmo, ninguém viu.
- Ué, mas todo mundo sabe...
- O que importa? O povo riu.
- Mau humor aqui não cabe!
- E o Futuro, o que dele vai ser?
- Deixa pra lá que ele é sem graça
- Quem é certinho não sabe viver
- E o Escândalo? Aaa esse, um dia passa.
E assim o povo continua rindo
Pão e circo vamos dar!
A Justiça tropeça, está sempre caindo
Coitada! É doente do pé, não sabe sambar
Vinicus Soares
quarta-feira, 3 de junho de 2009
A pena e as penas
Há dias em que pesa a pena.
Há tempos em que pesa a vida.
A própria existência é um punhal;
massacra, fere, tolhe
e confunde-se a vontade de estar vivo
com a de nunca ter nascido.
Não importa o céu azul,
não importam as crianças brancas, mimadas e felizes,
nem as festas nos bares,
nem os altares nas catedrais.
Tudo vazio,
tudo vão,
tudo oco.
Passa o dia,
passa a barca,
passam os transeuntes,
pára o tempo.
No fundo do quarto escuro,
um cobertor e um par de olhos escancarados.
O corpo inerte;
a alma transcendente;
as mãos frágeis.
Os lábios secos balbuciam algumas palavras,
tremem pelo frio,
temem pelas penas.
"O que será que me dá?
Que me bole por dentro,
será que me dá?..."¹
Vem, Pai eterno,
me sustentar!...
André Coelho
¹incidental: Milton Nascimento e Chico Buarque, O que será (À Flor da Pele)
segunda-feira, 1 de junho de 2009

Pro meu bem
Pro meu bem não tenho vontade
porque ela dá e passa
tenho amor, eternidade
tenho fonte e não taça
Pro meu bem não tenho incêndio
que com o tempo se apaga
tenho ar, oxigênio
tenho tudo e não nada
Pro meu bem não tenho choro
que sucede o sofrimento
tenho riso em grande coro
tenho vida e não momento
Vinicius Soares
ps. : poesia romantica não é meu forte, foi difícil mas saiu, rrsrs. aos enamorados, feliz dia 12

Passagem
Comprem seus bilhetes, o trem já vai partir!
Se ele vai voltar? não sabemos
Para onde vai? é incerto
Só sabemos que os bilhetes são caros
e tem prazo de validade
Quem não os compra, não parte
quem fica, não progride
Triste é o destino dos desafortunados
sonharam tanto com a viagem
e agora ficaram na estação
vendo os calouros no trem exibindo seus bilhetes
agora terão de esperar
pela partida no próximo ano
ansiedade, tristeza, solidão
histórias de dor e alegria
na estação da seleção
quem vai ou quem fica
é uma questão de posse
se é justo ou não
é uma questão de análise
mas não há nada mais duro
do que a dor de quem não parte...
Vinicius Soares
ps.: inspirado no livro Estórias de quem Gosta de Ensinar -- Ruben Alves

Escravidão
Aos olhos do leitor
eis a minha devoção!
Noites frias, mau dormidas
para dar-lhes distração
Triste sina, triste lida
agradar à multidão
só é lido o que é lindo
que sutil enganação!
Olhos rasos, olhos pobres
vivem longe da razão
leem só o que é claro
não enxergam direção
Para esse mau agouro
apresento a solução:
"bom se o povo fosse cego
para ler com o coração"
Vinicius Soares

Era uma vez...
Caminhando na areia vi um menino
Estava perto da água e fazia um castelo
O sol forte não o impedia de criar
Assistir o pequeno me fazia imaginar
Imaginava o que ele estava imaginando
A brisa, o sol, o mar e o menino
Tudo era perfeito em Copacabana
Perfeito para quem imaginava
O castelo ficou pronto
E eu, curioso, fui ter com o menino
Quem mora aí dentro?
Os pais que não tenho, respondeu ele.
A tarde passou e o sol se foi
Uma onda chegou e derrubou o castelo
Fui embora
Mas o menino ficou a imaginar...
Um mundo de reis e rainhas num grande banquete
De pais e mães num jantar em família
Um castelo com a presença de Alegria e Justiça
Um reino onde Fome e Solidão foram banidos
E todos viveram felizes para sempre...
Vinicius Soares
segunda-feira, 23 de março de 2009

Janelas
O vento bate
pede licença
ele quer entrar na casa
arejar os quartos
aliviar os cômodos
Ele é cortês
nunca invade sem antes pedir passagem
A você, Janela
é direcionada a petição do vento
e é você quem decide o quando e o quanto
É você quem escolhe os ventos
Janela da casa
Janela dos quartos
Janela dos cômodos
Janela da alma
Vinicius Soares